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Ainda esperamos por nossas Musas para começar a escrever?

Espero me recordar para sempre deste sonho.

Era uma noite escura, uma garota corria desesperada, lutando para manter o equilíbrio por entre uma estrada tortuosa. Atrás de si, uma besta horrenda rosnava em ao seu enlace. Por entre as árvores de caules negros, um cavalo se meteu em seu caminho, e a velha bruxa a tomou pelos pulsos, ajudando-a a fugir. No sacolejar da montaria, a velha explicava tudo para a garota sobre o que estava acontecendo e mais tarde, ao encontrarem seu tio e narrar toda a história, ele começa a escrever sobre os horrores trazidos por um artefato a uma afastada vila.

Durante todo o sonho, eu não fiz parte dele, quero dizer, toda a cena se desenrolava como se eu assistisse a um filme. Os personagens, já com nomes e funções dentro da narrativa eram mostrados, e o sonho terminava com o livro já sendo escrito. Eu me lembro da frase final, era algo como:

“E esta é uma história que narra muito bem o porque não se deve aceitar presentes de um estranho.”

Claro que utilizei este sonho para se tornar um romance que está em processo de criação. Essa não foi a primeira vez que fiz isso, nem mesmo a única. Nem mesmo eu sou o único a utilizar sonhos como fonte de inspiração. Harry Potter, romance que marcou uma geração inteira e tornou J. K. Rowling a primeira escritora de livro infantil milionária, teve sua ideia vinda de um sonho.

Quis começar destacando o sonho, porque, assim como a inspiração, este é um assunto que costuma estar envolvido certo misticismo e cujo interesse remonta a milênios atrás. Além de ser um resultado complexo de interações — bem, pela narração de meu sonho acima, acredito que seja sensato falar em muitas interações complexas envolvendo, principalmente, a história de vida individual e cultural. Essa associação, na verdade, é feita por Skinner (1957), mas já chegaremos lá.

Na Grécia antiga, a importância dada à inspiração foi tamanha que ela teve direito a um grupo de divindades: as Musas. Seres que inspiravam nos artistas as palavras certas em suas obras, abençoando-os em sua produção. Aliás, esta concepção era tão forte, que os gêneros possuíam uma marcação estrutural de invocar as Musas, ou outras divindades, para ajudá-los em sua empreitada artística, a qual se repete nas obras gregas Teogonia, Odisséia e Ilíada; romana, Eneida; portuguesa, Os Lusíadas e sobrevive até hoje, como em O amor de Apolo e Jacinto, em que o autor cearense mescla elementos da poesia épica com o cordel.

Eu poderia continuar a contar muitos outros rumores que circundam as diversas fontes de inspiração de escritores, porém quero, na verdade, falar sobre uma postura que parece perdurar desde os tempos de ouro da Grécia, se não antes: o de esperar a inspiração para começar a escrever.

Durante as eras, aprendemos a lidar com aquilo que entendemos por inspiração como sendo uma força motriz, por vezes única, de fazer o rio fluir. Uma pergunta rápida: quantas vezes você esperou pela inspiração para poder começar a escrever? E não me refiro unicamente a escritores literários, também já vi escritores acadêmicos reproduzindo o mesmo discurso quando questionados sobre o porquê de não escrever: “estou esperando a inspiração”, ou pelo menos: “estou esperando o momento perfeito”. Bem, sinto muito quebrar um pouco do romantismo, mas explicar a sua escrita através da inspiração, é a mesma coisa que falar que não escreve por um bloqueio. Voltamos àquele estado circular.

— Por que você está escrevendo mais?

— Porque eu estou inspirado!

— E como é que você sabe que está inspirado?

— Porque eu estou escrevendo mais!

Vamos lá, antes que desistam de mim por blasfemar contra a inspiração, afirmar que ela não produz a escrita, não é a mesma coisa que dizer que ela não existe.  Inspiração existe, sim, mas assim como o bloqueio de escrita, nós estamos falando de um estado — ativado por alguma razão ou razões — em que se observa uma maior facilidade para escrever, uma baixa no autojulgamento, uma maior fluidez e foco, e não de uma coisa que nos faz escrever.

Trazendo para a metáfora do rio, este é o momento em que afluentes estão favorecendo o seu rio da escrita, ou mesmo que não existem barreiras para represar suas palavras sedentas para sair. O que existe apenas é o horizonte inimaginável da escrita.

Eu sei, é bom se sentir assim. De certo modo, até viciante, não? O problema acontece quando nos relacionamos com a “Inspiração” como se ela fosse a única responsável por nos levar à escrita, pois, como em toda regra, o que se observa é uma maior insensibilidade ao seu contexto atual, podendo levar a padrões adoecidos (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021). Ou seja, para começar e continuar sua escrita, alguém precisaria estar nesse ponto tido como ideal ou certo, caso contrário, ela poderia não ser boa, iria ser automatizada, sem emoção etc. Esse tipo de postura não difere tanto dos antigos à espera das divindades, das Musas: o protagonismo da escrita passa a não mais pertencer ao escritor, mas a esse outro, essa instância metafísica que nos anima, a inspiração.

Isso soa um pouco perigoso, porque nos faz adotar uma espécie de postura passiva diante da escrita. Inspiração é importante, sim, mas ela é apenas uma parte do processo, um aspecto motivacional o qual você deve usar a seu favor, e não ficar refém dele. 

Mas como a inspiração funciona? Seria possível fazermos algo para nos deixar mais abertos a esse estado?

Em minha experiência, seja como escritor ou psicólogo, ouvi diversos contextos que deram ideias sobre o que escrever a pessoas. Sonhos, matérias de jornais, conversas com amigos, uma paixão… Colocando-me um pouco aqui no texto, muitas de minhas ideias mesmo aparecem em sonhos, e desde que era mais jovem, é muito comum que o processo de criação de ideias ocorra enquanto eu ando! Aliás, uma das formas utilizadas por escritores para sair de um estado de bloqueio que mais foi citada na pesquisa de Ahmed (2019) foi andar.

Boice (1990), por sua vez, pode nos oferecer uma importante contribuição para esse estado que compreendemos como inspiração. O pesquisador, tendo como foco produções acadêmicas, reuniu um grupo de professores e arranjou uma série de contingências, atribuídas aos participantes aleatoriamente, dividindo-os em três grupos: o primeiro, em condição de abstinência, foi proibido de qualquer escrita não emergencial, imediata; para o segundo, em condição espontânea, agendaram-se 50 dias de escrita, mas os participantes só deveriam escrever quando se sentissem inspirados; e o terceiro, por sua vez, foi obrigado a escrever durante todos os 50 dias da pesquisa. Os resultados mostraram que o terceiro grupo não só escreveu consideravelmente mais em relação aos anteriores, como seus participantes também relataram ter ideias as quais consideravam mais criativas.

Anote esta dica: manter uma escrita constante, nem que seja por breves períodos, pode ser essencial para um estabelecimento de um hábito saudável. Mais à frente iremos conversar sobre isso. Por mais paradoxal que possa parecer, manter uma escrita constante pode ser uma variável importante para o surgimento de ideias criativas, como ocorre em estados de inspiração, e não o contrário como se pensa ou se costuma falar.

Skinner (1957), em um capítulo dedicado ao processo de autocorreção — processo que gostaria de retomar em textos futuros –, pontuou que estados de inspiração parecem estar associados com baixas nesse processo de edição. Assim como nos sonhos, não existem barreiras ou contingências punitivas de seu conteúdo, apenas um livre fluxo de informações, que guarda similaridade com a escrita automática (escrever livremente sem se autocorrigir, sem ponderar muito sobre as palavras a serem colocadas, deixando-as fluir). No caso, ele cita o exemplo do autor Stevenson, do célebre romance O Médico e o Monstro, cuja ideia para a obra também se originou em um sonho.

Como disse antes, o sonhar é apenas uma das diversas fontes de inspiração, isto é, desse estado motivacional que nos ajudaria a contribuir para a nossa escrita. Em minhas sessões, eu costumo pedir para que meus clientes estejam atentos a contextos que poderiam dar novas ideias, seja para a escrita literária, seja para a acadêmica. Por exemplo, um artigo que me deu muitas ideias foi o de Rose (2016), e sempre que o releio, parece que me vêm mais ideias para explorar em futuros trabalhos. Esta postura significa, principalmente, se deixar ouvir mais sem autojulgamento ou, principalmente quando for escrever, deixar que o rio flua sem barreiras.

Um benefício de pensar na inspiração como estado motivacional, é saber que ela na verdade é produto desses fatores, um efeito que adoramos e valoramos, em que coisas no mundo o inspiraram a ter aquela ideia, aquela fala, ou a estruturação de um conceito. Se a inspiração é produto de algo que fazemos, nossa postura não mais está passiva, mas sim ativa, protagonista, seja ao vermos uma notícia, encararmos uma memória ou lermos um artigo científico.

De todo modo, estar mais atento ao presente e ciente de seu processo de escrita, de um modo ativo e protagonista, é sobretudo um convite para procurar inspiração nos mais diversos recortes de sua vida! Observe seu mundo privado, seus pensamentos e sentimentos, ou mesmo olhe para o mundo externo, algum acontecimento peculiar, algum trabalho científico que leu, todos esses elementos podem ser a fagulha que estava procurando! Sempre anote suas ideias, sem receio ou julgamento — lembre que estamos falando de um processo aqui –, separe um espaço para se sentir livre para criar e retornar. Eu costumo fazer isso num arquivo de texto ou mesmo pelo celular, o importante é não perdê-las. Ideias são como sementes, antes de darem frutos, é necessário plantar, germinar e alimentar. Então, sim, mantenha suas sementes.

Inspirações não são eternas, ou seja, você, ou seu cliente, experimentará muitos estados de inspiração, mas todos eles terão seu início, meio e fim. Permanecendo com uma postura ativa, cultivando as práticas citadas acima, você poderá estar mais aberto e reconhecer a sua relação com a inspiração, tornando-se cada vez mais protagonista da própria escrita.

Referências Acadêmicas:

Ahmed, S. J. (2019). An Analysis of Writer’s Block: Causes, Characteristics, and Solutions.(Dissertação de Mestrado). University of North Florida, Jacksonville, FL. Disponível  em: https://digitalcommons.unf.edu/etd/903.

Boice, R; (1990). Professors as writers: A self-help guide to productive writing. Stillwater: New Forums Press.

de Rose, J. C. (2016). A Importância dos Respondentes e das Relações Simbólicas para uma Análise Comportamental da Cultura1. Acta Comportamentalia: Revista Latina de Análisis de Comportamiento, 24(2), 201-220. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/2745/274545739006/html/

Hayes, S. C., Strosahl, K. D. & Wilson, K. G. (2021). Terapia de Aceitação e Compromisso-: O Processo e a Prática da Mudança Consciente. Artmed Editora.

Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century- Crofts.

Referências Literárias:

Eneida – Virgílio

Harry Potter e a Pedra Filosofal – J. K. Rowling

Ilíada – Homero

O amor de Apolo e Jacinto – Mateus Costa

Odisseia – Homero

O Médico e o Monstro – Robert Louis Stevenson

Os Lusíadas – Luís de Camões

Teogonia – Hesíodo.

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ansiedade Clínica trilhas

Díade|Lab – Trilhas: Aprendendo sobre a ANSIEDADE. Você tem medo de que?

Por Denis Zamignani (DíadeLab, Paradigma, Evolucio Capacitação)

Esse é o terceiro episódio da série DíadeLab Trilhas. Pra você que está na maior pilha pra estudar mas precisa de uma mãozinha pra não se perder no caminho!

Continuamos nossa viagem sobre o mundo da Ansiedade, mas o tema agora é Medo. Mas pra começar essa trilha sem medo, vamos relaxar um pouco, ao som de Lenine e Julieta Venegas… “O medo é uma linha que separa o mundo; O medo é uma casa aonde ninguém vai; O medo é como um laço que se aperta em nós; O medo é uma força que não me deixa andar”.

Escrever esse texto me fez me dar conta do quanto é difícil começar a “parir” o primeiro parágrafo… por onde começar? será que o pessoal vai gostar do tema? Será que vou conseguir ser claro o suficiente? E quando me dei conta, estava passando por um dos medos mais comuns do mundo acadêmico… a ansiedade de escrever. E é sobre isso que fala o texto do Jacinto Júnior “O processo comportamental da escrita”, no Blog da DíadeLab.    

O fato é que algumas situações deixam a gente morrendo de medo. Já outras deixam a gente um pouco ansioso. Mas será que medo e ansiedade são a mesma coisa? Quando a gente tem medo, sente ansiedade? Toda ansiedade envolve medo? No vídeo “Medo x Ansiedade”, o psiquiatra Cassiano Zortéa conta pra gente que o medo é uma resposta emocional a uma ameaça presente, enquanto a ansiedade se dá pela antecipação de uma ameaça futura. Vale a pena conferir!

Por que será que a gente tem medo? Será que a vida não seria muito mais divertida sem ele? Nesse vídeo “Por Que Sentimos Medo” do canal Ciência Todo Dia (aliás super recomendo esse canal!), você pode ver que não é bem assim.  Sem o medo, talvez nossa espécie tivesse dado lugar a algum outro ser – baratas, talvez? Arghhh

O medo e a ansiedade são os principais componentes dos transtornos de ansiedade. Mas é nas Fobias que o medo se destaca como componente central. Então, vamos falar um pouco sobre Fobias específicas? Roberto Banaco, nesse episódio do Programa “Como Será”, conversa sobre Fobias com a jornalista Sandra Annenberg.  Ele aponta que o medo, assim como todas as emoções, é importante porque nos preparam para agir em situações de ameaça. Já a fobia é geralmente um medo aprendido – e exagerado, e que por isso pode prejudicar o desempenho do indivíduo. No entanto, é importante lembrar que quando falamos de uma fobia estamos falando de comportamento, e não de uma doença. O nome Fobia descreve comportamento, mas não explica comportamento. É o que explica o artigo de Bruno Alvarenga no Minuto Psicologia.

Esse princípio trazido pelo texto de Bruno Alvarenga faz com que cada caso de fobia seja tratado de maneira individualizada. É o que mostra a Aula 8 do curso de estudos de caso da DíadeLab, na qual a Dra. Regina Wielenska relata o manejo de diferentes casos de Fobia de deglutição e aponta como, para cada caso, a análise de contingências conduz a diferentes estratégias de intervenção.

O curioso disso tudo é que poucas vezes somos procurados em nossos consultórios para tratar desse tipo de fobia. Na maioria das vezes o cliente dá um jeito de organizar a vida para não ter que lidar com o problema, a não ser que ele atrapalhe sua vida profissional ou social. É o caso, por exemplo, das fobias de avião ou fobia de dirigir, quando a pessoa perde oportunidades profissionais por não conseguir viajar. Um dos recursos de ponta disponíveis para esses casos é o tratamento de exposição por meio de realidade virtual, como apresentado nesse estudo orientado pela Dra. Verônica Bender Haydu.  

Você tem alguma dica pra tornar essa trilha ainda mais interessante? Escreva aqui nos comentários suas sugestões de leitura, vídeos, áudio e compartilhe com a gente sua experiência!

Comunidade DíadeLab… Juntos a gente chega mais longe!

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adolescência Análise do Comportamento Clínica

Limites (e sugestões) para orientação de pais em atendimentos com adolescentes

Gessika N. Gimenez Hilgemberg

Sabemos que em um processo terapêutico infantil sob perspectiva da Análise do Comportamento, a participação dos pais é de extrema importância. Muitos autores salientam inclusive que psicoterapia infantil sem a participação dos pais é inviável (para não falarmos que é impossível).

Mas e quanto a participação dos pais em um processo que envolve os adolescentes? Quais são os limites? Até qual ponto a participação deles pode ser eficiente ou até atrapalhar? Quando começamos a olhar para este aspecto, nos deparamos com um ponto crucial: a relação terapêutica.

Os adolescentes são conhecidos (de forma muitas vezes generalista e até equivocada) como um público desconfiado, inseguro e que preza pela sua privacidade. Só por aí já temos informações (sejam elas verídicas ou não) de como precisará se dar a relação com estes clientes. Para aqueles que topam e se engajam no processo, eles muitas vezes esperam que o terapeuta seja a pessoa acolhedora, empática e não punitiva diante de seus relatos de aventuras e sofrimentos vividos. Esperam que o terapeuta “entre” em suas descobertas e que a terapia possa ser um lugar seguro e que nada do que ele falar seja criticado ou exposto – principalmente para os pais.

Mas em determinados momentos, orientação aos pais é por vezes importante. Imagine um cliente de 17 anos que apresenta padrão comportamental de ansiedade social e dependência de outros, que está engajado para mudanças e enfrentamentos, e já trabalhou estratégias de ansiedade em terapia. Ele reside a poucas quadras do consultório do terapeuta, mas os pais ainda o trazem para as sessões. Entraria, em algum momento da terapia, a estimulação e encorajamento por parte do terapeuta para que aquele cliente experimentasse caminhar até o consultório por alguns metros, sozinho. E aí caberia uma conversa de orientação ao pais para que estimulassem este cliente também a vir sozinho e fazer esse enfrentamento rumo a melhora. Mas neste momento, todo o cuidado é necessário para que não seja quebrado o vínculo com o adolescente, onde ele é seu cliente e você deve seu sigilo.

Para isto, tomo alguns cuidados neste processo. Estes claro, modelados pelo acerto e erro na prática clínica, supervisões e literatura. São alguns deles:

  • Sempre que for necessário chamar os pais, comunico de antemão ao meu cliente pedindo sua autorização. Explico qual meu objetivo ao trazer os pais para o consultório, muitas vezes faço a análise funcional do porque seria importante ter essa conversa com eles e garanto o meu sigilo a ele. Dificilmente converso com os pais sem antes ter este aval por parte do cliente.
  • Tomo o cuidado de na sessão seguinte a conversa com os pais, trazer para meu cliente os pontos importantes que foram discutidos. Isso auxilia para que o cliente não entre em ansiedade em querer saber o que foi conversado ou que não crie fantasias de que o terapeuta e seus pais possam ter criado uma aliança contra o cliente, por exemplo. Isto claro, de acordo com o interesse do cliente. Alguns não estão interessados em saber (pode ser aversivo) e aí informo apenas aquilo que é relevante para o trabalharmos o caso ou relevante para o cliente.
  • Outro cuidado que considero ser importante é que na grande maioria das vezes opto por fazer a orientação aos pais sem a presença do cliente. Isso pois muitas vezes eles consideram ser muito aversivo estar ali, com os pais, onde muitas vezes estes podem criticar ou julgar algum comportamento do filho. Provavelmente terminará em um “climão”, onde o objetivo daquele encontro sai de orientação aos pais e caminha para terapia familiar. Mas claro, existem as excessões. Se a análise funcional mostra que será mais importante para o vinculo com você, ou que aquele cliente quer participar para esclarecer juntamente de ti alguns pontos, é muito válido incluir. Desde que ele tenha o interesse e a análise do caso mostre que aquilo será benéfico para seu cliente.
  • Existe também outras duas possibilidades que encontro na clínica: quando o cliente não quer que o terapeuta faça essa conversa ou quando envolve comportamento de risco. No caso da primeira, explico todas as consequências favoráveis para que eu realize aquele encontro, protejo nossa relação falando sobre o sigilo, mas tem vezes que não tem como. O cliente não está disposto. Neste caso, escolho por acolher e mostrar compreensão. Tento compreender seus motivos, converso sobre eles e informo inclusive que aguardo e que não agendarei minha conversa com os pais sem sua autorização. Mas é comum que eu avise que em algum momento isto precisará ser feito, podendo não ser na próxima semana, mas talvez na outra ou em algum outro momento. E junto disto, avalio sempre a função para que aquele cliente não autorizasse essa minha reunião com os pais.
  • Um segundo caso que muitas vezes elicia respondentes em nós terapeutas é quando o cliente está emitindo comportamentos de risco a si ou a outros e precisaremos comunicar os pais. Nesses casos, mostro ao cliente as consequências daquele comportamento e as consequências que eu enquanto terapeuta estarei correndo também caso não avise aos responsáveis. Em geral, o cliente costuma aceitar que este contato seja feito, mas para aqueles que não aceitam, mesmo assim é de extrema importância que seja comunicado o que está ocorrendo para algum de seus responsáveis e com isto a quebra do sigilo aconteça (e a importância de sempre registrar em prontuário ou documentação este contato que foi feito). Entramos aqui em uma questão inclusive ética, onde temos em nosso código, no Artigo 27°, que a quebra do sigilo profissional está prevista para casos onde o (a) paciente encontra-se em risco ou oferece risco a terceiros, sendo considerado a falta desta comunicação como um comportamento anti-ético.

Claro, estas são algumas diretrizes que eu enquanto terapeuta sigo com base no repertório que fui desenvolvendo ao longo dos anos, mas saliento que a peça chave para a tomada de qualquer uma destas decisões acima, ou qualquer outra, esteja embasada na sua análise funcional do caso.

Referências:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005.

EMIDIO, L. A. S.; RIBEIRO, M. R. & DE-FARIAS, A. K. C. R. Terapia infantil e treino de pais em um caso de agressividade. Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, no 2, 366-385.

MARINHO, M. L. A intervenção clínica comportamental com famílias. Em: SILVARES (org.). Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. Volume 1. Campinas, SP:Papirus, 2000.

Gessika N. Gimenez Hilgemberg

CRP: 08/19706

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Análise do Comportamento Clínica terapia de casais

Como nós, terapeutas, podemos ajudar os casais (ou nos ajudar) na pandemia?

por Carolina Perroni

A pandemia nos trouxe repentinamente muitas mudanças nas nossas vidas pessoais e nos atendimentos aos nossos clientes. Pessoas perderam emprego, entes queridos, qualidade de vida etc. Relacionamentos que antes podiam funcionar razoavelmente bem porque os dois indivíduos estavam envolvidos no mundo de maneiras diferentes, ou que em sua rotina mal se viam, de repente se depararam com uma realidade na qual passaram a compartilhar o mesmo espaço físico o tempo todo (às vezes em casas com apenas um cômodo). Não sei vocês, mas eu tive um aumento significativo na procura por atendimento de casais e imagino que os senhores do outro lado também. E era comum ouvir ao telefone: “Sabe Dra., a pandemia, né, a gente tá brigando muito.”

Sabe-se, por meio de muitas pesquisas empíricas, que ter um relacionamento amoroso bem-sucedido confere 15 anos a mais de vida para os membros do casal. Além disso, favorece a saúde, a resiliência e os filhos prosperam. Portanto, não só torna as pessoas mais saudáveis e mais ricas, como também é o segredo da longevidade.

Este texto então é para ajudá-los a melhorar a vida desses casais, sendo você terapeuta de casais ou não, entendendo que casais aqui é qualquer par que esteja se relacionando.

Quero apresentá-los a uma dupla de psicólogos pesquisadores que eu tive prazer de conhecer em um treinamento que fiz nos EUA e que me fizeram ficar apaixonada pela terapia de casal: John e Julie Gottman.

Tudo começou nos anos 70, quando os amigos Robert Levenson e John Gottman começaram a pesquisar como as pessoas se relacionavam. Diz a lenda que era para eles mesmos conseguirem ter bons relacionamentos também. Naquela época, havia muito livros sobre relacionamentos, mas quase nenhuma pesquisa relevante ou séria sobre o assunto. Em 1986, John Gottman e colegas montaram um Love Lab na Universidade de Indiana. Imaginem um Big Brother com casais recrutados para “viver” 24h sendo sistematicamente observados por pesquisadores. A instrução era: passem seus dias como se estivessem em suas casas. Seria exatamente como se estivessem em casa, exceto pelas medidas aferidas ao longo do dia e por terem que conversar sobre um assunto que adoravam e outro que fosse problemático. Para analisar a resposta imunológica ao nível de estresse foram utilizadas amostras de sangue e de urina, temperatura corporal, holters, câmeras etc.

O curioso é que Robert e John não haviam feito nada além de publicar os dados da pesquisa quando Julie, já casada com John, propôs usar a pesquisa para ajudar as pessoas a transformar seus relacionamentos uma vez que eles sabiam o que funciona ou não numa relação saudável.

De lá para cá, foram milhares de casais pesquisados em diferentes fases da vida, de recém-casados a aposentados, tendo o cuidado de incluir casais em situação de pobreza e do mesmo sexo. Foram 40 anos de pesquisas inovadoras sobre estabilidade conjugal e previsão de divórcio. Os dados acumulados foram conectados a ensinamentos práticos sobre resolução de conflitos, criação de conexões e sua percepção da existência dos casais Master e Disasters. Chamaram de Masters aqueles casais que permaneciam juntos e se consideravam felizes e que, quando brigavam, tinham cinco interações positivas para cada interação negativa, e de Disasters aqueles que se separavam ou viviam infelizes por longos anos sem conexão emocional.

E existem tipos de comunicação que acabam com qualquer felicidade. São: a crítica, a atitude defensiva, o desprezo e o desdém ou recusa em se comunicar, que foram apelidadas pelo autor carinhosamente como Cavaleiros do Apocalipse. Para quem não está familiarizado com os ensinamentos bíblicos, esses cavaleiros são aqueles que trazem peste, guerra, fome e morte.

Vamos começar com a crítica. Crítica é descrever uma falha na personalidade do cônjuge. Em vez de falar “Sinto-me chateado(a) com o fato de que a louça ficou suja ontem. Preciso da sua ajuda hoje para lavá-la”, a pessoa já inicia com “Você é tão preguiçoso(a). Toda vez que eu chego em casa a louça está suja”. Você, terapeuta, pode perceber isso rapidamente ao detectar “você sempre” ou “você nunca” na fala do cliente. A crítica descreve a falha de caráter do(a) parceiro(a) e não a situação.

Para se afastarem de um ataque percebido, as pessoas tendem a reagir, se proteger, defender sua inocência. Às vezes reagem contra-atacando ou devolvendo a culpa fazendo-se de vítima. Vamos voltar no exemplo da louça suja “Toda vez é isso, eu nunca sou bom(boa) o suficiente para você. Eu trabalho duro para pôr dinheiro nessa casa. Eu estou cansado(a), cansado(a), cansado(a)…”. Tudo ficaria mais fácil se o casal usasse este antídoto: aceitar a responsabilidade por pelo menos parte do problema. Exemplo: “Você tem razão. Ontem cheguei tão cansado(a) que não tive forças para lavar a louça, mas hoje faremos uma força-tarefa e tudo ficará limpo”.

Como desgraça pouca é bobagem, lá vem o desprezo. Desprezar alguém é colocar a pessoa para baixo, tomar um plano mais alto assumindo um nível moral mais elevado. Desprezo é qualquer declaração crítica que alguém faz quando se sente superior ao cônjuge. Exemplo: “sou melhor, mais inteligente, mais afetuoso(a), mais organizado(a), mais seguro(a), etc. que você”; ou ainda xingar, dar apelido, caçoar, imitar, rolar os olhos, cruzar os braços, bufar etc.  Exemplo: “Tudo o que você me pede eu faço, só que eu não posso contar com você”. Melhor aqui é usar o antídoto: descrever os sentimentos e necessidades e criar uma cultura de apreciação. Exemplo: “Eu realmente fiquei chateada ontem, me senti desrespeitado(a) com a louça suja. Sei que você teve muito trabalho ontem. Podemos lavar tudo hoje?” Atenção: desprezo é o maior preditor de divórcio. Para mais exemplos de desprezo, acesse o vídeo do Terça Insana “Senhor Merda e Esposa”. Dê muita risada e veja o que não fazer numa relação.

Desdém ou recusa em se comunicar é quando o ouvinte se retira da interação, ficando, porém, no mesmo lugar. Basicamente a pessoa não dá dicas se está ouvindo, por exemplo, olhando para o lado, não mantendo contato ocular ou cruzando os braços. Antídoto: a pessoa procura se acalmar (usando exercícios) e ficar conectado com a interação. Diz que precisa de uma pausa e volta no tempo combinado. Quem estiver esperando não deve ir atrás, mandar mensagem, ou ligar e sim esperar o tempo estipulado. Se o parceiro(a) não voltar, deve dizer: “Nosso tempo estipulado já passou. Você precisa de mais quantos minutos?”.

O casal de pesquisadores afirma que interações cotidianas positivas são tanto a causa quanto os efeitos de relacionamentos felizes. São as pequenas coisas positivas feitas com frequência que fazem a diferença. Ao longo do tempo pequenas mudanças podem concretizar grandes transformações.

Momentos conflitantes são boas oportunidades para conhecer o outro, aproveite o período de reclusão social para ajudar seus clientes a promover conexão emocional. Praticando as dicas acima eles podem “sair da pandemia” mais próximos, discutirão menos e por consequência se sentirão mais satisfeitos com o relacionamento.

Referências:

10 Principles for Doing Effective Couples (2015). Julie Schwartz Gottman e John M. Gottman. Editora W.W. Norton § Company.

Eight Dates: Essential Conversations for a Lifetime of Love (2019).  Julie Schwartz Gottman e John M. Gottman. Editora Workman Publishing Company.

Carolina Perroni

Psicóloga Analista do Comportamento, Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Supervisora dos residentes em Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atende casais e adultos.

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Além do básico

por Lidianne Queiroz

Você se preparou, estudou, fez investimento em um espaço (virtual ou presencial) para atender. Após algum tempo, as primeiras clientes apareceram e tudo está acontecendo conforme você tinha planejado. Perfeito, agora me conta: Você realmente está sendo a melhor terapeuta para a sua cliente? Te pergunto isso porque, todos os passos que você realizou antes de começar a atender, me mostram que você realmente quer se orgulhar do que faz e gerar mudança na vida das pessoas que você atende.

E aqui vai o primeiro segredinho, nem só de conhecimento vive uma boa terapeuta. Tudo o que você faz ou não faz em relação à sua cliente, diz pra ela o quanto você está comprometida em conduzi-la a atravessar a ponte em direção a uma vida valorosa. Então, um detalhe que certamente não passa despercebido é a sua pontualidade. Ser pontual comunica para a sua cliente que você reservou um horário adequado para que ela seja atendida, que você se importa com o tempo dela e que está ali exclusivamente para ela. Organize sua agenda de atendimentos de modo que os horários tenham a menor sobreposição possível. Além da pontualidade um outro aspecto relevante é a transmissão da mensagem de que a cliente se encontra em um espaço seguro e sigiloso, especialmente se você está realizando atendimento virtual.

A segunda mensagem que você precisa deixar clara para a sua cliente é que você trabalha em concordância com o nosso Código de Ética e que vai muito além da confidencialidade da relação terapeuta-cliente. Deixe claro que você trabalha respeitando e promovendo a liberdade dela em escolher e tomar as próprias decisões. Mostre que o foco do seu trabalho é na promoção da saúde e na qualidade de vida dela. Se engaje em ações que reflitam (na sua clínica) o seu comprometimento no exercício da responsabilidade social no enfrentamento das injustiças e desigualdades. Esteja comprometida com a tarefa de universalizar as informações sobre o funcionamento do trabalho de uma terapeuta para que mais pessoas possam ter acesso ao serviço de psicologia. Divulgue amplamente a mensagem que você não compactua com contextos de opressão, exploração e violência. Esteja atenta à realidade política, social e econômica do país onde a sua cliente reside, é sua função analisar e compreender o contexto em que ela está inserida para ampliar a sua capacidade de suporte. Tenha sempre em mente que o seu aprimoramento contínuo é fundamental para que a qualidade do seu serviço seja mantida.

Outro tópico muito relevante é a documentação que diz respeito ao seu atendimento. Devem permanecer em constante atualização o prontuário e o registro de sessões da sua cliente. É corriqueiro que estes documentos sejam negligenciados ou até mesmo esquecidos. Entretanto, além de estar em conformidade com o Conselho de Psicologia, ter os registros atualizados te ajuda a manter a clareza sobre o caso que você está atendendo e sobre as estratégias e ferramentas que você está utilizando. Estes dois aspectos te ajudarão a não perder o foco no seu atendimento, possibilitando que você redirecione (caso seja necessário) a sua condução sobre o caso de maneira mais ágil. Uma consequência que é frequentemente observada em terapeutas que mantém seus registros atualizados é a disposição em se manter comprometida com a cliente. Isso é importante porque após um tempo de atendimento ambas podem sentir-se desmotivadas. E você pode pensar que não está fazendo um bom trabalho ou que não consegue “ajudar” a sua cliente. E tá tudo bem pensar assim, vez ou outra analisamos nosso desempenho e pode ser que apareçam resultados desagradáveis. O problema reside na falta de dados que possam refutar ou corroborar os seus pensamentos. Sem registros atualizados fica praticamente impossível saber se você realmente precisa rever sua condução do caso ou se está se auto sabotando. Além dos documentos atualizados, receber supervisão vai te proporcionar mais segurança e tranquilidade na sua atuação profissional.

E para finalizar, eu oriento que você busque desenvolver ou aprimorar suas habilidades de assertividade e de gestão de carreira. Na maioria das situações você é a “faz tudo” da sua clínica, e para prevenir que a sua empresa seja impedida de operar é fundamental saber lidar com questões administrativas e financeiras com a sua cliente. Deixar claro desde o começo e relembrar sempre que houver necessidade, os compromissos dela com horário, com o pagamento e com o período em que ela pretende tirar férias. Não aprendemos durante a graduação que iremos trabalhar com venda de serviços, eu sei que parece meio óbvio, mas não é o que eu tenho encontrado em minha prática como supervisora e consultora. Muitas terapeutas que chegam até mim apresentam dificuldade de falar sobre dinheiro, em precificar a sua sessão e cobrar de acordo com essa precificação. A consequência para comportamentos como estes é o acúmulo de clientes que pagam valores muito abaixo do necessário para manter a saúde financeira do seu negócio.

Apresentei aqui alguns pontos que entendo como tão relevantes quanto escolher um espaço de atendimento e decidir atuar como terapeuta clínica. A profissão de psicologia precisa ser encarada pelas psicólogas e pelas clientes como um negócio e como tal deve estar sujeita a todos os aspectos que envolvem o funcionamento saudável dessa firma. Nós, as terapeutas, podemos ser acolhedoras, gentis, compreensivas e mesmo assim atuar como empresárias da nossa clínica quando necessário.

Nota da autora: se você quer saber mais sobre como gerenciar seu consultório, me chama pra conversar no Instagram @liddiqueiroz.

Referências

Abreu-Rodrigues, J. & Ribeiro, M. R. (2005). Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre, RS: Artmed.

Moreira, M.B. & Medeiros, C. A (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed

Aureliano, L., & Pessoa, C. V. B. B. (2017). Análise de Sistemas Comportamentais: uma proposta de análise e intervenção nas organizações. In Vilas Boas, D. L. O.,

Borba, A., Ramos, C. C., & Ramos, T. D. (2017). O surgimento da Análise do Comportamento Aplicada às Organizações. In Vilas Boas, D. L. O., Cassas, F., Gusso, H. L. (Orgs.). Comportamento em Foco (Vol. 5, Cap. 1, pp. 13-27). São Paulo: Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. 

Gusso, G. L. (2017). Desafios ao Analista do Comportamento no Campo Organizacional Brasileiro. In Vilas Boas, D. L. O., Cassas, F., Gusso, H. L. (Orgs.). Comportamento em Foco (Vol. 5, Cap. 6, pp. 77-86). São Paulo: Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental.  Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano. (Trad. João Carlos Todorov) São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1953).

Dra. em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Empreendedora, Psicóloga, Terapeuta Contextual pelo Instituto Florescer, Consultora em Gestão Comportamental pela Realize CST, Supervisora Sênior de Equipe pela Flamboiã ABA, Consultora em plataforma digital para saúde mental

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Análise do Comportamento Clínica resiliência Sem categoria

É possível ensinar resiliência?

por Tatiana Cohab Khafif

Nas últimas décadas, a renomada pesquisadora da Universidade de Stanford, Angela Duckworth, tem buscado compreender o que faz com que indivíduos com níveis similares de inteligência, sejam capazes de realizar maiores ou menores conquistas em suas vidas. Duckworth notou que, apesar de certas características serem cruciais para o sucesso em determinadas profissões (como por exemplo a extroversão, para vendas), indivíduos bem sucedidos tem algo em comum: eles possuem grit (Duckworth, 2007). O termo grit, do inglês, é definido como a capacidade trabalhar com perseverança e paixão visando objetivos a longo prazo; assim, ter grit envolve ser capaz de enfrentar os desafios e percalços do caminho, mantendo o esforço e o interesse constantes, apesar dos fracassos e adversidades (Duckworth, 2007).

Apesar de certamente distinta, a definição de grit nos faz lembrar, em muitos aspectos, a de resiliência, tema de grande enfoque no contexto clínico e do desenvolvimento. O que faz com que certos indivíduos prevaleçam frente a adversidades, enquanto outros sucumbem a eles? É possível ensinar resiliência e grit, ou devemos nos conformar com o que nos é dado?

            Estudos mostram que apesar de sofrer certa influência genética (Rimfield, 2016), grit e resiliência podem ser alterados e impactados por fatores ambientais (Boneva, 2019). Quando falamos de ambiente, sabemos que este pode oferecer fatores de risco e fatores protetores. Os fatores ambientais protetores, tem como função o amortecimento do impacto dos fatores de risco, os quais muitas vezes estão fora do nosso controle (Zamignani, 2017).

            A autonomia, o autocontrole, a consciência interpessoal, a empatia, habilidade de soluções de problema, enfrentamento e planejamento, são essenciais para o desenvolvimento de um indivíduo resiliente (Zamignani, 2017).  Mas como nós, pais, psicólogos e educadores podemos contribuir para o desenvolvimento de um repertório adequado para o desenvolvimento de grit e da resiliência?

            Para além dos cuidados físicos e da estimulação adequada, é importante que haja um enfoque no desenvolvimento da linguagem e da expressão emocional, que permitirá que o indivíduo seja capaz de fazer escolhas, dialogar, argumentar em prol de suas necessidades, assim como expressar-se de forma adequada (Zamignani, 2017). Para tal, é necessário que haja uma consistência no afeto e nos limites dados ao indivíduo. É muito comum que haja confusão entre uma implementação clara e sólida de limites, com regras consistentes e instruções claras, e a punição, onde é lançada mão de ameaças e de um não constante para visando a obediência e o respeito às regras.

A psicóloga clínica e pesquisadora, Diana Baumrind propôs, na década de 1960, um modelo teórico sobre tipos de controle parental, que pode ser utilizado para pautar diferentes relações de cuidado. Dentro do modelo proposto por Baumrind, quatro principais estilos parentais (ou maneiras de educar) são analisados, sendo eles, os estilos autoritativo, autoritário, permissivo e o negligente. Dentro do estilo autoritativo, estariam os pais com alta exigência, e ao mesmo tempo alta responsividade (apoio emocional, atenção para as necessidades do indivíduo, orientação); dentro do autoritário, estariam os pais com alta exigência, porém baixa responsividade; no permissivo, teríamos cuidadores com baixa exigência e alta responsividade; e no negligente, pais com baixa exigência e baixa responsividade (Baumrind, 1966).

É claro que, quanto antes forem implementados estes cuidados, mais fácil será o desenvolvimento de características favoráveis ao grit e a resiliência; mas isso não significa que não podemos olhar para estes aspectos mais adiante na vida, em diferentes contextos. Como psicólogos clínicos, cuidadores e educadores, temos a oportunidade de olhar para os indivíduos que nos elegem para guiá-los em seus processos únicos e tão individuais de auto-conhecimento, sob uma lente de cuidado e de estabelecimento de limites, que lhes dê a segurança, o amparo, e ao mesmo tempo a autonomia e autoconfiança para se desenvolverem como indivíduos flexíveis e resilientes.

REFERÊNCIAS:

Alan, S., Boneva, T., & Ertac, S. (2019). Ever failed, try again, succeed better: Results from a randomized educational intervention on grit. Quarterly Journal of Economics, 134, 1121–1162.

Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior. Child Development, 37, 887-907.

Duckworth, A.L.; Peterson, C.; Matthews, M.D.; Kelly, D. R. (2007). Grit: perseverance and passion for long-term goals. Journal of personality and social psychology, 92(6), 1087. DOI: https://doi.org/10.1037/0022-3514.92.6.1087

Park, D. T.; Sukayama, E.; Yu, A.; Duckworth, A.L. (2020). The development of grit and growth mindset during adolescence. Journal of Experimental Child Psychology, 198. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jecp.2020.104889

Rimfeld, K., Kovas, Y., Dale, P. S., & Plomin, R. (2016). True grit and genetics: Predicting academic achievement from personality. Journal of Personality and Social Psychology, 111, 780–789. DOI: https://doi.org/10.1037/pspp0000089  Zamignani, D. R. (2017). Parentalização para a Resiliência. Video online. Youtube, 21 de Abril de 2017. Evolucio Capacitação Profissional. Conteúdo online, acessado em 10 de maio de 2021: https://www.youtube.com/channel/UCqGyJ4IppEO7adcFf3fJMng

Psicóloga graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2018). Mestranda (término Junho 2021), psicóloga colaboradora e pesquisadora do Ambulatório de Transtorno do Humor Bipolar (PROMAN) no IPq HC-FMUSP. Analista do comportamento, atualmente cursando especialização em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) (FATEC-PR, término 2022). Atua clinicamente com crianças, adolescentes e adultos, e tem experiência com transtornos do humor e transtornos de ansiedade.

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Análise do Comportamento Clínica frustração Relações humanas

Frustração: você sabe lidar?

por Bruna Catarina Pavani

Por diversas vezes abri o documento do word esperando conseguir escrever algo bacana. Tentei buscar inspirações em outros textos que escrevi, em textos que li, em podcasts que ouvi, mas nada vinha.

Em alguns momentos, meu pensamento era: ‘’ está tudo bem, daqui a pouco eu tento de novo’’, em outros: ‘’eu preciso escrever isso agora’’. Penso que, o sentimento que consegue resumir bem tudo isso é: a frustração!

Há alguns anos atrás participei de uma palestra cujo o nome era: ‘’você só saberá lidar com a frustração se frustrando’’. Hoje essa palestra fez todo sentido. Durante a palestra, o palestrante comentou que por mais que existem diversos livros de autoajuda que falem sobre o tema, não existe um manual de instrução que nos ensine a não nos frustrarmos mais.


       Frustrações fazem parte da nossa vida e só vamos aprender a lidar com elas quando estamos expostos a essas situações.


       Não temos como nos preparar para uma situação para que quando ela aconteça, sintamos menos… por mais que você se prepare para lidar com a dor de uma injeção, você vai continuar sentindo a dor quando ela for aplicada e essa dor passa!

Aceitar o que estamos sentindo é fundamental para situações assim… a questão, é que somos ensinados a nos esquivar de nossos sentimentos!

Hayes e Pistorello (2015) mencionam:

Aceitar um evento encoberto é estar disposto a tê-lo, é possibilitar sua manifestação e não evitar entrar em contato com ele. Não é o mesmo que resignação, tomá-lo como uma certeza ou com tolerância, mas perceber o que está acontecendo com seus pensamentos e sentimentos sem perder de vista que são apenas pensamentos e sentimentos, sem se fundir a eles. (…) Aceitar os eventos encobertos tem duas grandes vantagens: o autoconhecimento — saber o que se passa consigo mesmo e como os acontecimentos repercutem nos pensamentos e sentimentos, possibilitando o acesso à experiência e consequentemente aprendendo através dela; e a neutralização da necessidade de fugir ou evitar estes eventos (p.69)

No próximo texto, falarei mais pra vocês sobre como aceitar nossos sentimentos! Hayes, S.C. e Pistorello, J. (2015). Introdução a Terapia de Aceitação e Compromisso. Belo Horizonte/MG: Artesã. P.69

Bruna Catarina Pavani – @psicobrupavani

Especialista em Análise do comportamento (ITCR) | Pós graduanda em Sexologia (INPASEX)
CRP 06/135021

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Análise do Comportamento Clínica drogas psicoterapia assistida por psicodélicos Sem categoria

Tabu: consumo de substâncias psicoativas – com Pedro Quaresma

por Canal dos Berrekas

Fruto do reforçador de vocês, nasce uma nova parceria BerrekasCAST feat DíadeLab. Apertem os cintos que já começaremos com os dois pés na porta com um tema que veio para romper a “quarta parede”. O nosso convidado de hoje é o Pedro Quaresma, nosso comentarista oficial diretamente da DíadeLab, que veio para falar sobre os estudos envolvendo abuso de substâncias, uso medicinal de substâncias ainda consideradas ilegais em nosso país e as consequências dessa prática. O gran finale será sobre Psicoterapia Assistida por Psicodélicos.

Se você procura conteúdos sobre Psicologia em geral com ênfase na Análise do Comportamento seu lugar é aqui. Aperte os cintos e aproveite a jornada oferecida pelos Berrekas em parceria com a DíadeLAB. Serão episódios recheados de bom humor, conhecimento científico, análise do comportamento e sugestões de toda a galera que curte escutar um podcast em qualquer hora do dia.

Sobre @canaldosberrekas

Canal criado por dois Psicólogos Comportamentais, com o intuito tanto de divulgar os trabalhos da Psicologia Comportamental quanto a Psicologia em geral e seu contato com as outras profissões. Obrigado e esperamos que gostem. Um abraço dos BERREKAS!!!

Luciano Martorelli Moreno CRP 06/149510 @psi.lucianomartorelli Lucas Vinicius Ferreira da Silva CRP 06/166176 @psi.lucasviniciusf

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Análise do Comportamento Clínica Relações humanas

A importância da intermitência nos relacionamentos amorosos.

Bruna C. Pavani

De acordo com Martin e Pear (2009), uma dada classe de respostas pode ser reforçada em esquema de reforçamento contínuo – quando o reforço é produzido toda vez que o comportamento é emitido – ou intermitente – quando o comportamento ora é reforçado, ora não. Boa parte do nosso comportamento no cotidiano é reforçado intermitentemente; por exemplo, você só recebe seu salário quando trabalha por determinados dias e não depois de cada comportamento emitido no trabalho.

Tendo isso em vista, vamos imaginar duas situações:

João namora com Maria e Maurício namora com Cláudia.

Todos os dias João leva flores a Maria, já Maurício, leva de vez em quando flores a Cláudia.

Em um determinado dia, João se esqueceu de levar flores a Maria e Maria brigou com João. Mas como Maurício não leva sempre flores a Cláudia, quando ele leva, Cláudia se surpreende.

Agora, vamos fazer uma análise funcional disso:

Tabela 1. Relacionamento de João e Maria:

Resposta de MariaConsequênciaFunção da consequência para MariaAções de Maria
Aproximar-se de JoãoJoão leva flores  . Evidência de afeto (Maria sente-se amada SR+);
. Diminuição de eventual privação afetiva (SR-).
. Maria se comporta em função da apresentação do reforçador;
. Manutenção da relação em esquema de reforçamento contínuo.
Aproximar-se de JoãoJoão esquece de levar as flores. Retirada da evidência de afeto (Extinção);
. Como o esquema é de reforçamento contínuo, a experiência de Maria é de retirada do reforçador (seu comportamento de aproximar-se de João não foi reforçado com flores nessa ocasião.
. Maria se comporta em função da retirada do que era reforçador a ela;
. Brigas ocasionais Questionamentos sobre o relacionamento Afastamento de Maria em médio prazo.
Sr+ = Reforço positivo; Sr- = Reforço negativo; P+= Punição positiva; P-= Punição Negativa

Tabela 2. Relacionamento Maurício e Cláudia:

Resposta de CláudiaAntecedentesFunção para CláudiaAções de Cláudia
Aproximar-se de MaurícioMaurício encontra Cláudia e apresenta demonstrações de afeto variadas.  . As ações diversas de Maurício provêem evidências de afeto;
. Diminuição de eventual privação afetiva de ambos (Sr-) 
. Por se tratar de um esquema de reforçamento intermitente, a ausência das flores, não é vivida como “retirada” de algo.  
. Cláudia se comporta em função da apresentação dos reforçadores.  
Aproximar-se de MaurícioNa presença da namorada, Maurício leva flores em momentos inesperados.  . Cláudia “se surpreende” quando recebe as flores (Sr+ – por ser um evento pouco frequente, a apresentação das flores é vivida como “novidade”, e encontro é somado ao evento “receber flores”.). Cláudia se comporta em função do que Maurício adiciona ao relacionamento;
. A apresentação das flores contribui para a manutenção do comportamento em esquema de reforço intermitente.
Sr+ = Reforço positivo; Sr- = Reforço negativo

João reforçava continuamente o comportamento de Maria ao vê-la, levando flores. Quando ele deixou de levar a flor, Maria estranhou e discutiu com ele, pois este não era um comportamento esperado de João. A retirada do reforçador em um esquema de reforçamento contínuo estabelece uma condição de extinção – nesse caso, o comportamento de Maria de se aproximar de João é que deixa de ser reforçado com flores. E é aí que está a diferença entre as duas situações… quando o comportamento é reforçado continuamente, ele é menos resistente à extinção e, logo que o reforço é retirado, já fica evidente a falta do reforçador e a “falha” no esquema.

Cláudia, por sua vez, como Maurício lhe levava flores apenas eventualmente, aprendeu a esperar pelo reforçamento – ou seja, seu comportamento se tornou mais resistente à extinção. Assim, na ausência do reforço não há conflitos em seu relacionamento, pois a “novidade” na situação é a apresentação do reforçador, e não a sua retirada. Isso se dá porque Cláudia está exposta a um esquema de reforçamento intermitente.

Podemos pensar em outros reforçadores existentes nas relações amorosas, que, quando deixam de existir, ou diminuem de frequência, podem causar atritos, tais como: ligações, mensagens, presentes etc. Troquem as flores desse exemplo por responder mensagens, por exemplo… se você costuma responder imediatamente em toda ocasião, estabelece um padrão de reforçamento contínuo. Dessa forma, a partir do momento que você não responde imediatamente, isso pode gerar um atrito. Por outro lado, se de vez em quando você responde rápido e de vez em quando não, a pessoa já espera isso de você.

É comum que essas mudanças no esquema de reforçamento ocorram gradativamente. No início de uma relação, a novidade é uma operação motivadora (OM – aquela que, momentaneamente, altera a efetividade reforçadora de um estímulo) poderosa e, movidos por essa operação motivadora, tendemos a dar atenção ao parceiro em esquema quase contínuo. Com o tempo de convivência uma nova operação motivadora começa a agir, que é a estabilidade na relação de afeto, ao mesmo tempo que a OM “novidade” começa a diminuir. Em função dessas mudanças, tendemos a confiar na relação de afeto, e temos menos necessidade de responder continuamente. Essa mudança pode ser sentida por alguns como ameaçadora, gerando insegurança, cobranças e brigas. Se essas mudanças se estabelecem de maneira abrupta, o conflito é quase certo.

Para quem trabalha com casais ou mesmo quando se discutem relações amorosas na psicoterapia individual, pensar sobre o impacto desse esquemas de reforçamento sobre o relacionamento é fundamental.

Martin, G. e Pear, J. (2009). Modificação de comportamento. O que é e como fazer. Trad. Noreen Campbell de Aguirre; revisão cientifica Hélio José Guilhardi. São Paulo: Roca. 8° ed. pp. 89

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Análise do Comportamento Clínica

Os terapeutas comportamentais também amam?

Pedro Quaresma Cardoso

Será que o amor está presente no coração desse cara tão técnico? B.F. Skinner – pasmem! – falou e muito de amor.

Minha intenção aqui não é falar do amor dos amantes, nem dos apaixonados. Em tempos pandêmicos de racionamento de afeto, contato físico, de escassez de todas as ordens e coisa e tal acho que cabe mais falar sobre amor ao próximo. 

Amor pelo próximo era quase um mantra em seus textos. Nas entrelinhas, o altruísmo sempre foi o grande motivador da obra dele, mas como diz uma amiga: “Ele foi muito claro nas entrelinhas!”. Havia uma preocupação por entender como fazer com que as pessoas deixassem de agir impulsivamente, comendo em excesso, procrastinando, dirigindo perigosamente, agindo com agressividade, usando água, energia e recursos naturais sem preocupação.

Seu grande lema era tentar fazer com que deixássemos a impulsividade de lado na maior parte do tempo e agíssemos sob controle de consequências atrasadas. Aí sim, enfim, teríamos um mundo mais sustentável. “Um mundo meramente feliz não é suficiente; deve ser um mundo que tenha alguma chance de sobrevivência.” (Skinner, 1983, p.395).

Pera aí! Já vou responder se ele tinha amor no coração. Vai vendo. Lembre-se, o cara era técnico até o último fio de cabelo – dividiu o conceito de amor em três partes. (Se estiver com pressa pule essa parte, mas leia depois):

Segundo Skinner (1991) as contingências de seleção, natural e operante, que produzem o sentimento de amor devem ser analisadas. Para entendê-las Skinner utiliza três palavras gregas para definir amor: Eros, philia e ágape.

Eros: Palavra usualmente empregada para significar amor sexual. A suscetibilidade ao reforçamento pelo contato sexual é um traço evolutivo do ser humano. Portanto, uma parte importante do comportamento sexual e várias dimenções do amor parental foram selecionadas durante a evolução da espécie.

 Philia: Amor relacionado a situações reforçadoras aprendidas durante a história de vida do indivíduo.  

 Ágape – Evolução cultural: A direção do reforçamento é invertida. Não é o nosso comportamento, mas o comportamento daquele que amamos que é reforçado. O efeito primeiro é sobre o grupo. Ao demonstrar que sentimos prazer pelo que a outra pessoa fez, nós fortalecemos o fazer, e assim fortalecemos o grupo.

Nosso trabalho como terapeutas no consultório passa por esses conceitos. Ensinar os clientes a agir sob controle de reforçadores atrasados – plantar hoje para colher amanhã – é muito importante. Eu diria que é um caminho possível no tratamento dos transtornos depressivos e ansiosos.

Porém discutir o conceito de amor altruísta é uma obrigação e um possível legado que nós psicólogos clínicos podemos deixar para cada um de nossos clientes. Sim, nós temos um poder técnico nas mãos que pode ajudar pessoas a se sentirem mais satisfeitas individual e coletivamente sem esquecer que um mundo impulsivo não é sustentável.

Agora me responda você. B.F. Skinner tinha ou não amor no coração? Na minha humilde opinião ele tinha amor no coração, na cabeça (e que cabeça!) e em todos seus textos. Vale a pena ler e reler. Aliás, sim os terapeutas comportamentais também amam!

Referências

Skinner, B. F. (1983). A matter of consequences. New York: New York University Press.

Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas, Papirus Editora.