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Díade|lab Trilhas: Aprendendo sobre a ANSIEDADE em tempos de COVID-19

Aprendendo sobre a ANSIEDADE em tempos de COVID-19

Por Denis Zamignani (DíadeLab, Paradigma, Evolucio Capacitação)

Ola! Esse é oi segundo episódio da série DíadeLab Trilhas. Pra você que está na maior pilha pra estudar mas precisa de uma mãozinha pra não se perder no caminho!

Continuamos nossa viagem sobre o mundo da Ansiedade, falando um pouco sobre a ansiedade num mundo em Pandemia.

A ansiedade e os transtornos a ela relacionados estão há muito tempo presentes na nossa prática clínica, mas o advento da pandemia de COVID19 trouxe novos desafios para o terapeuta. A experiência de ameaça constante (e invisível) trazida pela pandemia afetou significativamente aqueles que estão na linha de frente do enfrentamento da Pandemia. Em uma meta-análise realizada por Silva e col., foi constatada alta prevalência de ansiedade entre profissionais de saúde, sendo maior o risco entre mulheres e enfermeiros. Os achados indicam a importância de medidas para a prevenção e o tratamento adequado, especialmente daqueles que apresentam sintomas de ansiedade moderada e grave. No vídeo “Ansiedade em tempos de COVID – Acolhimento ao cliente e autocuidado do terapeuta”, Denis Zamignani conversa com Josy Moriyama sobre ansiedade em tempos de pandemia, na Capacitação para suporte psicológico da Equipe de terapeutas da UEL. E esse episódio da série Trilhas está Global! Vale apena assistir a live do Instituto Agir e Pensar, onde Valessa Oliveira entrevista a atriz Mariana Santos falam sobre maneiras criativas com que a atriz lida com sua ansiedade – por vezes deliciosamente cantando e dançando suas crises de pânico – dentre outras passagens de sua história. Nessa outra live, Equilíbrio Emocional em Tempos de Isolamento, Pedro Quaresma conversa com a atriz Jacqueline Sato, que conta de maneira divertida, como “virou a louca da faxina” nas primeiras semanas, e passou a equilibrar os afazeres domésticos, as demandas profissionais, as demandas da House of Cats, o auto-cuidado e o cuidado com a avó durante a quarentena.

Mas não são apenas os profissionais que trabalham na linha de frente que sofreram com a ansiedade. A ansiedade tem aumentado significativamente na população em geral. No estudo desenvolvido por Barbosa e cols., foram encontrados níveis elevados de ansiedade desencadeados após a pandemia. Diversas são as fontes de ansiedade: o período excessivo de isolamento e distanciamento social, o medo de se contaminar ou mesmo o bombardeio de informações, conforme aponta esse artigo de Sidnei Priolo no Portal Comporte-se. O trauma de perder entes queridos ou de ter a própria vida ameaçada ao sofrer a contaminação pelo vírus podem ser fonte de estresse pós-traumático . Transtornos de ansiedade também são detectados em pessoas que foram contaminadas pelo COVID-19. Em um estudo desenvolvido pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, a avaliação subjetiva prevalente dos pacientes pós-COVID é de dor, ansiedade e depressão. O isolamento do paciente durante a internação, na qual ele fica privado de visitas familiares ou mesmo sem contato por celular pode ter grande impacto na sua saúde mental. Outro estudo desenvolvido com pacientes três meses após testar positivo para COVID-19 detectou que quase um em cada cinco (18%) recebeu um diagnóstico psiquiátrico, o que é quase o dobro de outros grupos de pacientes com condições e doenças diferentes. Devido a estes achados, a ansiedade tem sido estudada como uma possível sequela do Coronavirus.

A Pandemia foi também um catalisador de ações incríveis de acolhimento e solidariedade. Muitos projetos foram desenvolvidos para acolhimento da população em sofrimento psicológico em função da Pandemia de COVID-19. Exemplos desses projetos foram desenvolvidos no Centro Paradigma – o Projeto Mobilização Paradigma (veja os vídeos do simpósio sofrimento psicológico na Pandemia Parte 1 e Parte 2)  e na Universidade Estadual de Londrina – o Projeto Suporte Psicológico COVID-19 (veja o texto de Josy Moriyama e Renata Grossi sobre o Projeto).

E nós, terapeutas? Será que a Pandemia afetou nossa saúde mental? Nesse episódio da série REDETAC em Evidências, Alessandra Vilas Boas e Ana Carmen Oliveira têm uma conversa cheia de sensibilidade sobre os impactos no terapeuta das mudanças provocadas pela pandemia do Covid-19 e o cuidado para quem cuida. Nessa Live Paradigma “Mindfullness: estratégias em dias de isolamento“, Roberta Kovac fala sobre os benefícios do mindfullnes e apresenta alguns recursos que podem contribuir para enfrentar a ansiedade desse período tão difícil. Aproveita e dá uma olhadinha na aula incrível sobre autocuidado do terapeuta que a Fátima Conte e o Bernardo Rodrigues deram no Curso da DíadeLab “Olhares sobre a prática clínica do Terapeuta Analítico-Comportamental – Aula 21 – Terapeuta também é gente.

Nas próximas Trilhas DíadeLab, vamos falar ainda mais da ansiedade, em diferentes contextos e sob diferentes perspectivas.

Você tem alguma dica pra tornar essa trilha ainda mais interessante? Escreva aqui nos comentários suas sugestões de leitura, vídeos, áudio e compartilhe com a gente sua experiência! Comunidade DíadeLab… Juntos a gente chega mais longe!

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Limites (e sugestões) para orientação de pais em atendimentos com adolescentes

Gessika N. Gimenez Hilgemberg

Sabemos que em um processo terapêutico infantil sob perspectiva da Análise do Comportamento, a participação dos pais é de extrema importância. Muitos autores salientam inclusive que psicoterapia infantil sem a participação dos pais é inviável (para não falarmos que é impossível).

Mas e quanto a participação dos pais em um processo que envolve os adolescentes? Quais são os limites? Até qual ponto a participação deles pode ser eficiente ou até atrapalhar? Quando começamos a olhar para este aspecto, nos deparamos com um ponto crucial: a relação terapêutica.

Os adolescentes são conhecidos (de forma muitas vezes generalista e até equivocada) como um público desconfiado, inseguro e que preza pela sua privacidade. Só por aí já temos informações (sejam elas verídicas ou não) de como precisará se dar a relação com estes clientes. Para aqueles que topam e se engajam no processo, eles muitas vezes esperam que o terapeuta seja a pessoa acolhedora, empática e não punitiva diante de seus relatos de aventuras e sofrimentos vividos. Esperam que o terapeuta “entre” em suas descobertas e que a terapia possa ser um lugar seguro e que nada do que ele falar seja criticado ou exposto – principalmente para os pais.

Mas em determinados momentos, orientação aos pais é por vezes importante. Imagine um cliente de 17 anos que apresenta padrão comportamental de ansiedade social e dependência de outros, que está engajado para mudanças e enfrentamentos, e já trabalhou estratégias de ansiedade em terapia. Ele reside a poucas quadras do consultório do terapeuta, mas os pais ainda o trazem para as sessões. Entraria, em algum momento da terapia, a estimulação e encorajamento por parte do terapeuta para que aquele cliente experimentasse caminhar até o consultório por alguns metros, sozinho. E aí caberia uma conversa de orientação ao pais para que estimulassem este cliente também a vir sozinho e fazer esse enfrentamento rumo a melhora. Mas neste momento, todo o cuidado é necessário para que não seja quebrado o vínculo com o adolescente, onde ele é seu cliente e você deve seu sigilo.

Para isto, tomo alguns cuidados neste processo. Estes claro, modelados pelo acerto e erro na prática clínica, supervisões e literatura. São alguns deles:

  • Sempre que for necessário chamar os pais, comunico de antemão ao meu cliente pedindo sua autorização. Explico qual meu objetivo ao trazer os pais para o consultório, muitas vezes faço a análise funcional do porque seria importante ter essa conversa com eles e garanto o meu sigilo a ele. Dificilmente converso com os pais sem antes ter este aval por parte do cliente.
  • Tomo o cuidado de na sessão seguinte a conversa com os pais, trazer para meu cliente os pontos importantes que foram discutidos. Isso auxilia para que o cliente não entre em ansiedade em querer saber o que foi conversado ou que não crie fantasias de que o terapeuta e seus pais possam ter criado uma aliança contra o cliente, por exemplo. Isto claro, de acordo com o interesse do cliente. Alguns não estão interessados em saber (pode ser aversivo) e aí informo apenas aquilo que é relevante para o trabalharmos o caso ou relevante para o cliente.
  • Outro cuidado que considero ser importante é que na grande maioria das vezes opto por fazer a orientação aos pais sem a presença do cliente. Isso pois muitas vezes eles consideram ser muito aversivo estar ali, com os pais, onde muitas vezes estes podem criticar ou julgar algum comportamento do filho. Provavelmente terminará em um “climão”, onde o objetivo daquele encontro sai de orientação aos pais e caminha para terapia familiar. Mas claro, existem as excessões. Se a análise funcional mostra que será mais importante para o vinculo com você, ou que aquele cliente quer participar para esclarecer juntamente de ti alguns pontos, é muito válido incluir. Desde que ele tenha o interesse e a análise do caso mostre que aquilo será benéfico para seu cliente.
  • Existe também outras duas possibilidades que encontro na clínica: quando o cliente não quer que o terapeuta faça essa conversa ou quando envolve comportamento de risco. No caso da primeira, explico todas as consequências favoráveis para que eu realize aquele encontro, protejo nossa relação falando sobre o sigilo, mas tem vezes que não tem como. O cliente não está disposto. Neste caso, escolho por acolher e mostrar compreensão. Tento compreender seus motivos, converso sobre eles e informo inclusive que aguardo e que não agendarei minha conversa com os pais sem sua autorização. Mas é comum que eu avise que em algum momento isto precisará ser feito, podendo não ser na próxima semana, mas talvez na outra ou em algum outro momento. E junto disto, avalio sempre a função para que aquele cliente não autorizasse essa minha reunião com os pais.
  • Um segundo caso que muitas vezes elicia respondentes em nós terapeutas é quando o cliente está emitindo comportamentos de risco a si ou a outros e precisaremos comunicar os pais. Nesses casos, mostro ao cliente as consequências daquele comportamento e as consequências que eu enquanto terapeuta estarei correndo também caso não avise aos responsáveis. Em geral, o cliente costuma aceitar que este contato seja feito, mas para aqueles que não aceitam, mesmo assim é de extrema importância que seja comunicado o que está ocorrendo para algum de seus responsáveis e com isto a quebra do sigilo aconteça (e a importância de sempre registrar em prontuário ou documentação este contato que foi feito). Entramos aqui em uma questão inclusive ética, onde temos em nosso código, no Artigo 27°, que a quebra do sigilo profissional está prevista para casos onde o (a) paciente encontra-se em risco ou oferece risco a terceiros, sendo considerado a falta desta comunicação como um comportamento anti-ético.

Claro, estas são algumas diretrizes que eu enquanto terapeuta sigo com base no repertório que fui desenvolvendo ao longo dos anos, mas saliento que a peça chave para a tomada de qualquer uma destas decisões acima, ou qualquer outra, esteja embasada na sua análise funcional do caso.

Referências:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005.

EMIDIO, L. A. S.; RIBEIRO, M. R. & DE-FARIAS, A. K. C. R. Terapia infantil e treino de pais em um caso de agressividade. Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, no 2, 366-385.

MARINHO, M. L. A intervenção clínica comportamental com famílias. Em: SILVARES (org.). Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. Volume 1. Campinas, SP:Papirus, 2000.

Gessika N. Gimenez Hilgemberg

CRP: 08/19706