Categorias
trilhas

REPETIÇÕES, MANIAS E RITUAIS: O TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

Por Denis Zamignani

Nas páginas a seguir você encontrará um guia bastante detalhado de conteúdos acerca de um tema central. O tema de hoje é “TOC” e vamos falar sobre ele a partir de variados pontos de vista.

Há uma trilha de conteúdo para você acompanhar nas próximas páginas composta de uma página com figuras clicáveis e de um texto explicativo. Em cada figura dessas há uma série de “paradas” e elas trarão conteúdos em múltiplos formatos: aulas gratuitas, programas de TV, textos complementares, vídeos lúdicos, pesquisas e materiais exclusivos para os membros da nossa comunidade.

Não é preciso, de forma alguma, ser assinante da Díade|Lab para acessar a maior parte dos conteúdos. As aulas fechadas estão aí para você mergulhar ainda mais tema, se tiver necessidade, ok?

Vamos juntos?


Esse Post foi escrito com base em uma das Díade|Trilhas. Clique no botão abaixo para fazer o download do PDF.

Começo essa trilha te propondo um desafio! Antes de seguir a leitura, ouça
essa música até o fim, mesmo que não seja seu estilo preferido…
Ouviu?

Pois bem… o desafio é o seguinte. Quero que você chegue ao final dessa trilha sem cantarolar o refrão: “Se ela dança, eu danço! Se ela dança, eu danço!”. Quando chegar na última linha, não pode sobrar nem um pedacinho!
Tenho certeza de que essa não é a sua primeira vez! Você certamente já teve aquela experiência de acordar com o refrão de uma música na cabeça, que não desgruda de jeito nenhum. E você tenta trocar “mentalmente” de música, ouvir outra coisa, mas a danada volta a incomodar. Se isso já aconteceu, você já teve uma pequena amostra do que acontece com a cabeça de alguém que sofre com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

A pessoa com TOC experimenta Obsessões-pensamentos, ideias ou imagens intrusivas e indesejáveis que, por mais que ele tente tirar da cabeça ele não tem sucesso. Na tentativa de eliminaras obsessões ou o desconforto por ela causado, ele acaba desenvolvendo comportamentos repetitivos –os chamados rituais ou Compulsões. É o que ocorre com a personagem de Jack Nicholson no filme Melhor impossível. O filme retrata com maestria o sofrimento de um escritor amargurado e dominado por rituais de limpeza, organização, contagem, entre outros. No texto “O TOC e as habilidades sociais no filme melhor é impossível” Gisa Baumgarth faz uma ótima análise da personagem e de seu incrível processo de mudança.

E falando em Gisa, alguns anos atrás ela quem aprontou comigo exatamente como eu fiz com vocês no início desse texto. Disposta a me deixar maluquinho – e quase conseguiu -, durante uma semana ela me mandava diariamente um trechinho dessa música “se ela dança eu danço” “se ela dança eu danço!”. Falando nisso, já conseguiram tirar ela da cabeça? Olha que não falta muito para terminar o texto!

Na última versão do DSM – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, quinta edição, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo foi retirado da categoria dos Transtornos de ansiedade e foi disposto em um capítulo à parte, denominado Transtorno Obsessivo-Compulsivo e Transtornos Associados. Apesar disso, do ponto de vista de processos comportamentais, seu funcionamento é muito semelhante a os outros transtornos de ansiedade e, por isso, ele está aqui nessa Díade Trilha sobre ansiedade. No vídeo “TOC- Transtorno Obsessivo Compulsivo“, o Psiquiatra Marco Antonio Abud apresenta uma boa descrição do problema do ponto de vista da psiquiatria. Vale a pena conferir também o vídeo
Transtorno obsessivo compulsivo, da página Minutos Psíquicos
, que apresenta uma descrição bem simples que pode ser usada como material para trabalhar com nossos clientes.
É importante ainda fazer uma diferenciação entre o TOC e o que é conhecido como Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva ou Personalidade anancástica. No vídeo “Transtorno de Personalidade Anancástica ou Obsessiva Compulsiva”, a psiquiatra Maria Fernanda explica muito bem essa diferença. No vídeo “Transtorno de Personalidade Obsessiva: o tratamento completo“, Pedro Rodrigues apresenta uma proposta contextual para o manejo do TPOC.
Assim como qualquer problema comportamental, os comportamentos envolvidos no TOC têm uma função que deve ser analisada para cada indivíduo e isso deve ser considerado para uma boa formulação de caso clínico. No artigo “Ampliando as possibilidades de intervenções sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo“, Ana Paula Araújo relata um estudo que investigou essas funções e constatou que os rituais obsessivo-compulsivos, além de suspenderem o contato com as obsessões, produziram outras consequências relevantes.
Sem querer ser insistente, mas, só pra você não se perder na tarefa… já parou de pensarem “Se ela dança, eu danço!”?

A Análise do comportamento e as Terapias cognitivo-comportamentais desenvolveram tecnologias bastante efetivas para lidar com o TOC. A mais conhecida – e mais testada – delas é a chamada Exposição com prevenção de respostas. Parte do princípio da habituação, segundo o qual, se o indivíduo permanecer na presença de um estímulo por um tempo razoável, seu organismo vai se habituar à presença do estímulo até que deixe de apresentar os respondentes a ele associados. A técnica, no entanto, é um dos muitos recursos da qual o analista do comportamento pode lançar mão e, como toda ferramenta, tem que ser utilizada com parcimônia. No artigo
A perspectiva analítico-comportamental no manejo do comportamento obsessivo-compulsivo”, Joana Singer Vermes e Denis Roberto Zamignani
abordam essa discussão, apresentando algumas propostas para o manejo clínico. Veja também o texto “Transtorno Obsessivo-Compulsivo”, de Michelli Cameoka, que apresenta algumas possibilidades de manejo a partir da perspectiva da ACT – Terapia de Aceitação e Compromisso.
A DiadeLab não poderia deixar de fora um tema tão importante. No curso de Estudos de Caso, o TOC e suas variações são tratados em três aulas distintas. Na aula 21, a Profa. Yara Kuperstein Ingberman relata
Um caso de TOC tratado por meio da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)“. Na aula 24, Denis Zamignani apresenta de modo bastante detalhado a “Construção de uma formulação de caso clínico em um caso de TOC“, com algumas características de Hipocondria. Já na aula 55, o Prof. Fabian Orlando Olaz relata um “Caso clínico tratado por meio de uma abordagem comportamental contextual focada no Self“.
Precisa de material com linguagem acessível ao público leigo para orientar seus clientes? Veja o texto “Lavar… Arrumar… Contar.. Quando as manias se tornam um problema”, de Denis Roberto Zamignani e Roberto Alves Banaco. Ouça também o episódio “Meus pensamentos não me deixam em paz”, do novíssimo Podcast SAC de Saúde Mental, em que Lizandra Campos e Bianca Dalmaso conversam sobre o manejo dos pensamentos intrusivos, em uma linguagem acessível para trabalhar com nossos clientes. Na página Minutos psíquicos há também uma série de vídeos muito interessante que ensina algumas dicas para lidar com pensamentos intrusivos; confira aqui: “Você pensa demais? Siga essas 5 dicas científicas” e “Ruminação mental e supressão do pensamento: quando fantasmas do passado continuam nos assombrando”.

E aí, conseguiu chegar ao final sem pensar na música? Eu acho que não… O pensamento incomoda – seja por seu caráter repetitivo, seja por seu conteúdo desagradável ou incômodo. Você tenta controlar o pensamento, mudando o foco, pensando em outra coisa ou fazendo rituais que o neutralizem. Mas quando você menos espera, o pensamento volta. E volta de novo. E de novo.
O fato é que, para não pensar em algo, esse algo tem que estar presente “não pense no refrão”. E quanto mais ele tenta não pensar, mais ele está pensando. O único jeito é aceitar que o pensamento está aí, e se comprometer com o que faz sentido pra você. Enquanto o pensamento se esvai. Mas conta pra gente sua experiência! Ela vai te ajudar a entender um pouquinho o que ocorre com seu cliente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *