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O que um sapo pode te ensinar sobre relacionamento abusivo?

por Bruna C. Pavani

De acordo com Barreto (2015), um relacionamento é abusivo quando há excesso de poder e controle entre uma das partes. Os sinais de abuso iniciam de forma sutil e podem avançar gradualmente, podendo chegar à violência física ou psicológica, causando sofrimento e trazendo prejuízos à qualidade de vida, saúde mental e física da vítima.

Apesar de ter tido maior destaque na mídia nos últimos tempos – principalmente por conta do aumento dos casos na pandemia-, ninguém está livre de entrar em um relacionamento abusivo.

Em 2006, foi instituída a Lei maria da Penha (11340/06) cuja principal função é coibir, prevenir e erradicar a violência contra a mulher. Mas é importante ressaltar que relações abusivas independem de gêneros.

Quando pensamos que um relacionamento abusivo começa de forma sutil, sempre gosto de lembrar da metáfora do sapo e da água fervente:

‘’Se você puser um sapo numa panela, enchê-la com água e colocar no fogo, vai perceber que o sapo se ajusta à temperatura e permanece dentro, porém, quando a temperatura atinge um grau elevado, o sapo não consegue sair mais na panela e isso não é por conta da temperatura, mas sim, por estar cansado por ter se ajustado tantas vezes à temperatura da água. Agora, se colocarmos um sapo numa panela já com a água fervendo, de imediato o sapo pula fora.’’

Quando iniciamos um relacionamento, as situações abusivas não se iniciam com a “água fervendo”, caso contrário conseguiríamos pular fora de imediato. Mas o que seria essa água fervendo? Depende. Para cada individuo pode ser uma coisa diferente e depende da forma como cada pessoa discrimina as contingências em ação.

Quando iniciamos um relacionamento, geralmente, “a água está fria” e “pode ir se aquecendo aos poucos” e é isso que chamamos de forma sutil. O comportamento do abusador vai se refinando e a vítima vai reforçando seu comportamento sem muitas vezes ter consciência das consequências que isso pode lhe ocorrer. Vejamos um exemplo:

Imaginem um casal que iniciou um relacionamento recentemente: João e Maria.

Quadro 1. Retrato do relacionamento de João e Maria:

João diz a Maria que gostaria de saber mais sobre suas amizades, afinal, gostaria de conhecê-la melhor. Maria, feliz, conta para João sobre todos os seus amigos e diz que quer levá-lo para conhecê-los. Quando João conhece seus amigos, comenta com ela que fica desconfortável com a forma como Maurício a trata, pois parece que ele está apaixonado por ela. Com isso, Maria decide se afastar de Maurício para evitar desentendimentos com João.

Quando olhamos apenas para a forma (topografia) do comportamento de João, ele parece apenas demonstrar interesse em conhecer melhor a namorada e seus amigos, mas a função nem sempre corresponde à topografia. Neste caso, a função era ter controle sobre Maria e as pessoas com quem ela convivia. Maria reforça o comportamento de João ao se afastar de Mauricio.

Quadro 2. Retrato do relacionamento de João e Maria:

Após alguns meses, Maria comenta com João que terá um aniversário de uma amiga ao qual ela gostaria muito de ir, mas que será apenas para garotas e que ele não seria convidado, João fica emburrado e fica sem conversar com Maria por um tempo. Maria decide não ir ao aniversário.

Novamente, a topografia pode parecer diferente da função: A forma neste caso sugeria desconforto, mas a função é também de controle sobre o comportamento de Maria. Mais uma vez, Maria reforça o comportamento abusivo de Joao quando desiste de ir ao aniversário.

Quadro 3. Retrato do relacionamento de João e Maria:

João e Maria começaram a passar mais tempo juntos e se divertem quando estão juntos, o que é reforçador a ambos. Mas o final do ano chega e os pais de Maria combinam uma viagem com ela e antes de dizer a João, Maria já recusa pois sabe que João não iria gostar. Maria passa o final do ano com João e João varia o seu comportamento entre grosserias e carinhos.

Além dos prejuízos sociais que Maria tem por já não sair mais com seus amigos, Maria se priva de atividades prazerosas para ficar com Joao como forma de evitar discussões, porém, entra no ciclo do relacionamento abusivo:

É importante lembrar que nem sempre a relação abusiva é de fácil identificação e isso se dá por conta da variabilidade de comportamentos que podem ser emitidos dentro de um relacionamento, assim como variam as funções dos comportamentos emitidos. Mas, existem alguns comportamentos que estão sempre presentes dentro de relacionamentos abusivos, como: Controle, ciúmes e isolamento social e é importante nós, como psicoterapeutas ficarmos alertas a estes sinais.

Barretto, R.S. (2015) Psicóloga explica relacionamento abusivos: o que é e como sair dessa situação. Entrevista. UNESP, São Paulo. Recuperado de: http://reporterunesp.jor.br/2015/08/20/psicologa-explica-relacionamentos-abusivos-oque-e-e-como-lidar-com-essa-situacao/

Barretto, R.S. (2015) Psicóloga explica relacionamento abusivos: o que é e como sair dessa situação. Entrevista. UNESP, São Paulo. Acesso em: http://reporterunesp.jor.br/2015/08/20/psicologa-explica-relacionamentos-abusivos-oque-e-e-como-lidar-com-essa-situacao/

WALKER, Lenore. The battered woman. New York: Harper and How, 1979.

_____. LEI MARIA DA PENHALei N. °11.340, de 7 de Agosto de 2006

Bruna Catarina Pavani – @psicobrupavani

Especialista em Análise do comportamento (ITCR) | Pós graduanda em Sexologia (INPASEX)
CRP 06/135021

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