
por Bruna Catarina Pavani
No último texto sobre Frustração, comentei que falaria sobre como aceitar melhor o que sentimos e é sobre isso que vamos falar hoje.
Diante do número crescente de mortes, a COVID-19 tem causado outra pandemia: a do medo e ansiedade. A COVID-19 mudou a forma como nos comportamos, como nos relacionamos, como fazemos planos.
De início imaginamos que seriam apenas 15 dias em casa e estes 15 dias viraram 1 ano. E de que forma isso nos afeta?
Nos tornamos pessoas mais ansiosas, menos tolerantes a frustrações, mais estressadas, com dificuldades para dormir, com alterações no apetite etc.
Ignorar o que sentimos só piora a situação. A melhor forma de lidar com isso é nos acolhendo. Mas será que dá para fazer isso?
Crescemos em uma sociedade onde ficar triste, magoado, com raiva, irritado é visto como algo ruim. Quando isso acontece, logo vem alguém dizer: ‘’mas a sua vida é tão boa e você está aí triste’’, invalidando seus sentimentos. Nomeamos isso de: positividade tóxica, mas pera aí, alguém aqui consegue controlar o que sente?
Se eu falar para vocês:
‘Não pensem em um bolo de chocolate com recheio de prestígio’
Provavelmente, a primeira coisa que vocês pensaram, foi num bolo de chocolate com recheio de prestígio e por que vocês não controlaram isso? Porque simplesmente não dá, simplesmente não depende apenas de você. E é a mesma coisa dos sentimentos…
Hayes e Pistorello (2015) dizem:
‘’Tendemos a formular regra de não pensar (ou sentir, ou lembrar) no evento aversivo, mas na própria regra: “não vou pensar em x”; o “x” está presente e transformará a aversividade do evento para a palavra, tornando aquilo que se quer evitar, presente. E por esta razão que o controle dos eventos encobertos não funciona efetivamente, pois não se trata de uma pedra que se esconde num lugar distante e não se vê mais; o comportamento verbal faz da simples pedra aquela que sempre volta no meio do caminho.’’ (p.24)
Somos ensinados e tentar evitar tudo o que é considerado negativo: pensamentos ou sentimentos. E eu concordo que é desgostoso sentir raiva, tristeza, angústia, frustração etc., porém, esses sentimentos também são importantes e precisamos avaliar em que situações estamos nos sentindo assim…
Hayles e Pistorello (2015) mencionam dois motivos pelos quais as pessoas tentam ter controle sobre os comportamentos encobertos:
- Eles costumam funcionar bem nos eventos abertos
- O controle funciona a curto prazo, gerando assim, um reforço negativo significativo.
Ou seja, nossa própria cultura nos ensina que, se ignorarmos o que estamos sentindo, uma hora passa, mas a verdade é que não passa.
Quando você passa aceitar que está tudo bem se sentir dessa forma, porque condiz com a situação, você percebe que da mesma forma que o sentimento vem, ele vai embora… Quanto mais você tenta lutar para não se sentir de determinada forma, mais você vai se sentir.
Uma dica que dou é: Converse com teus sentimentos, avalie o porquê você está se sentindo dessa forma (avalie os antecedentes), perceba se esse sentimento condiz com a situação e diga para si mesmo ‘está tudo bem eu me sentir dessa forma, eu sei que logo vai passar’.
Hayes, S.C. e Pistorello, J. (2015). Introdução a Terapia de Aceitação e Compromisso. Belo Horizonte/MG: Artesã.

Bruna Catarina Pavani – @psicobrupavani
Especialista em Análise do comportamento (ITCR) | Pós graduanda em Sexologia (INPASEX)
CRP 06/135021