por Tatiana Cohab Khafif

Nas últimas décadas, a renomada pesquisadora da Universidade de Stanford, Angela Duckworth, tem buscado compreender o que faz com que indivíduos com níveis similares de inteligência, sejam capazes de realizar maiores ou menores conquistas em suas vidas. Duckworth notou que, apesar de certas características serem cruciais para o sucesso em determinadas profissões (como por exemplo a extroversão, para vendas), indivíduos bem sucedidos tem algo em comum: eles possuem grit (Duckworth, 2007). O termo grit, do inglês, é definido como a capacidade trabalhar com perseverança e paixão visando objetivos a longo prazo; assim, ter grit envolve ser capaz de enfrentar os desafios e percalços do caminho, mantendo o esforço e o interesse constantes, apesar dos fracassos e adversidades (Duckworth, 2007).
Apesar de certamente distinta, a definição de grit nos faz lembrar, em muitos aspectos, a de resiliência, tema de grande enfoque no contexto clínico e do desenvolvimento. O que faz com que certos indivíduos prevaleçam frente a adversidades, enquanto outros sucumbem a eles? É possível ensinar resiliência e grit, ou devemos nos conformar com o que nos é dado?
Estudos mostram que apesar de sofrer certa influência genética (Rimfield, 2016), grit e resiliência podem ser alterados e impactados por fatores ambientais (Boneva, 2019). Quando falamos de ambiente, sabemos que este pode oferecer fatores de risco e fatores protetores. Os fatores ambientais protetores, tem como função o amortecimento do impacto dos fatores de risco, os quais muitas vezes estão fora do nosso controle (Zamignani, 2017).
A autonomia, o autocontrole, a consciência interpessoal, a empatia, habilidade de soluções de problema, enfrentamento e planejamento, são essenciais para o desenvolvimento de um indivíduo resiliente (Zamignani, 2017). Mas como nós, pais, psicólogos e educadores podemos contribuir para o desenvolvimento de um repertório adequado para o desenvolvimento de grit e da resiliência?
Para além dos cuidados físicos e da estimulação adequada, é importante que haja um enfoque no desenvolvimento da linguagem e da expressão emocional, que permitirá que o indivíduo seja capaz de fazer escolhas, dialogar, argumentar em prol de suas necessidades, assim como expressar-se de forma adequada (Zamignani, 2017). Para tal, é necessário que haja uma consistência no afeto e nos limites dados ao indivíduo. É muito comum que haja confusão entre uma implementação clara e sólida de limites, com regras consistentes e instruções claras, e a punição, onde é lançada mão de ameaças e de um não constante para visando a obediência e o respeito às regras.
A psicóloga clínica e pesquisadora, Diana Baumrind propôs, na década de 1960, um modelo teórico sobre tipos de controle parental, que pode ser utilizado para pautar diferentes relações de cuidado. Dentro do modelo proposto por Baumrind, quatro principais estilos parentais (ou maneiras de educar) são analisados, sendo eles, os estilos autoritativo, autoritário, permissivo e o negligente. Dentro do estilo autoritativo, estariam os pais com alta exigência, e ao mesmo tempo alta responsividade (apoio emocional, atenção para as necessidades do indivíduo, orientação); dentro do autoritário, estariam os pais com alta exigência, porém baixa responsividade; no permissivo, teríamos cuidadores com baixa exigência e alta responsividade; e no negligente, pais com baixa exigência e baixa responsividade (Baumrind, 1966).
É claro que, quanto antes forem implementados estes cuidados, mais fácil será o desenvolvimento de características favoráveis ao grit e a resiliência; mas isso não significa que não podemos olhar para estes aspectos mais adiante na vida, em diferentes contextos. Como psicólogos clínicos, cuidadores e educadores, temos a oportunidade de olhar para os indivíduos que nos elegem para guiá-los em seus processos únicos e tão individuais de auto-conhecimento, sob uma lente de cuidado e de estabelecimento de limites, que lhes dê a segurança, o amparo, e ao mesmo tempo a autonomia e autoconfiança para se desenvolverem como indivíduos flexíveis e resilientes.
REFERÊNCIAS:
Alan, S., Boneva, T., & Ertac, S. (2019). Ever failed, try again, succeed better: Results from a randomized educational intervention on grit. Quarterly Journal of Economics, 134, 1121–1162.
Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior. Child Development, 37, 887-907.
Duckworth, A.L.; Peterson, C.; Matthews, M.D.; Kelly, D. R. (2007). Grit: perseverance and passion for long-term goals. Journal of personality and social psychology, 92(6), 1087. DOI: https://doi.org/10.1037/0022-3514.92.6.1087
Park, D. T.; Sukayama, E.; Yu, A.; Duckworth, A.L. (2020). The development of grit and growth mindset during adolescence. Journal of Experimental Child Psychology, 198. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jecp.2020.104889
Rimfeld, K., Kovas, Y., Dale, P. S., & Plomin, R. (2016). True grit and genetics: Predicting academic achievement from personality. Journal of Personality and Social Psychology, 111, 780–789. DOI: https://doi.org/10.1037/pspp0000089 Zamignani, D. R. (2017). Parentalização para a Resiliência. Video online. Youtube, 21 de Abril de 2017. Evolucio Capacitação Profissional. Conteúdo online, acessado em 10 de maio de 2021: https://www.youtube.com/channel/UCqGyJ4IppEO7adcFf3fJMng

Psicóloga graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2018). Mestranda (término Junho 2021), psicóloga colaboradora e pesquisadora do Ambulatório de Transtorno do Humor Bipolar (PROMAN) no IPq HC-FMUSP. Analista do comportamento, atualmente cursando especialização em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) (FATEC-PR, término 2022). Atua clinicamente com crianças, adolescentes e adultos, e tem experiência com transtornos do humor e transtornos de ansiedade.