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Análise do Comportamento Clínica

Os terapeutas comportamentais também amam?

Pedro Quaresma Cardoso

Será que o amor está presente no coração desse cara tão técnico? B.F. Skinner – pasmem! – falou e muito de amor.

Minha intenção aqui não é falar do amor dos amantes, nem dos apaixonados. Em tempos pandêmicos de racionamento de afeto, contato físico, de escassez de todas as ordens e coisa e tal acho que cabe mais falar sobre amor ao próximo. 

Amor pelo próximo era quase um mantra em seus textos. Nas entrelinhas, o altruísmo sempre foi o grande motivador da obra dele, mas como diz uma amiga: “Ele foi muito claro nas entrelinhas!”. Havia uma preocupação por entender como fazer com que as pessoas deixassem de agir impulsivamente, comendo em excesso, procrastinando, dirigindo perigosamente, agindo com agressividade, usando água, energia e recursos naturais sem preocupação.

Seu grande lema era tentar fazer com que deixássemos a impulsividade de lado na maior parte do tempo e agíssemos sob controle de consequências atrasadas. Aí sim, enfim, teríamos um mundo mais sustentável. “Um mundo meramente feliz não é suficiente; deve ser um mundo que tenha alguma chance de sobrevivência.” (Skinner, 1983, p.395).

Pera aí! Já vou responder se ele tinha amor no coração. Vai vendo. Lembre-se, o cara era técnico até o último fio de cabelo – dividiu o conceito de amor em três partes. (Se estiver com pressa pule essa parte, mas leia depois):

Segundo Skinner (1991) as contingências de seleção, natural e operante, que produzem o sentimento de amor devem ser analisadas. Para entendê-las Skinner utiliza três palavras gregas para definir amor: Eros, philia e ágape.

Eros: Palavra usualmente empregada para significar amor sexual. A suscetibilidade ao reforçamento pelo contato sexual é um traço evolutivo do ser humano. Portanto, uma parte importante do comportamento sexual e várias dimenções do amor parental foram selecionadas durante a evolução da espécie.

 Philia: Amor relacionado a situações reforçadoras aprendidas durante a história de vida do indivíduo.  

 Ágape – Evolução cultural: A direção do reforçamento é invertida. Não é o nosso comportamento, mas o comportamento daquele que amamos que é reforçado. O efeito primeiro é sobre o grupo. Ao demonstrar que sentimos prazer pelo que a outra pessoa fez, nós fortalecemos o fazer, e assim fortalecemos o grupo.

Nosso trabalho como terapeutas no consultório passa por esses conceitos. Ensinar os clientes a agir sob controle de reforçadores atrasados – plantar hoje para colher amanhã – é muito importante. Eu diria que é um caminho possível no tratamento dos transtornos depressivos e ansiosos.

Porém discutir o conceito de amor altruísta é uma obrigação e um possível legado que nós psicólogos clínicos podemos deixar para cada um de nossos clientes. Sim, nós temos um poder técnico nas mãos que pode ajudar pessoas a se sentirem mais satisfeitas individual e coletivamente sem esquecer que um mundo impulsivo não é sustentável.

Agora me responda você. B.F. Skinner tinha ou não amor no coração? Na minha humilde opinião ele tinha amor no coração, na cabeça (e que cabeça!) e em todos seus textos. Vale a pena ler e reler. Aliás, sim os terapeutas comportamentais também amam!

Referências

Skinner, B. F. (1983). A matter of consequences. New York: New York University Press.

Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas, Papirus Editora.

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Relações humanas

Como regras sociais influenciam os relacionamentos amorosos?

Bruna Catarina Pavani

De acordo com Skinner (1984), regras são descrições de relações entre as ações de um sujeito e suas possíveis consequências. As regras podem se apresentar de diversas formas, tais como instruções ou conselhos, auxiliando assim o processo de aprendizagem. Além disso, a própria pessoa pode exercer o papel de ouvinte/falante ao mesmo tempo, emitindo regras para si mesmo – quando isso ocorre, damos o nome de autorregeras.

Quando pensamos em regras e relacionamentos amorosos, nosso senso comum costuma ditar diversas regras sobre formas de se relacionar. O indivíduo pode ainda formular autorregras aa partir de sua história de vida.

Vamos pensar em algumas regras sociais:

  • ‘’Depois que casar muda’’
  • ‘’ Se está difícil é porque vale a pena’’
  • ‘’ Uma boa mulher muda o homem’’
  • ‘’ Mulher de balada não dá para ser levada a sério’’
  • ‘’ Homem é tudo igual’’

E por aí vai….

Podemos pensar que existem vantagens e desvantagens ao seguirmos regras. Uma de suas vantagens é que aprendemos de forma mais rápida, até porque, passamos a seguir instruções e podemos generalizá-las. No entanto, uma de suas desvantagens é que podemos ficar insensíveis às contingências, ou seja, não discriminamos as contingências em operação por estarmos sob controle das instruções recebidas e com isso, diminuímos nossa variabilidade comportamental. (MEYER, 2007).

De acordo com Paixão (2016), “os comportamentos controlados por regras podem ser mantidos por uma consequência não especificada pela própria regra e que não seja produzida diretamente pelo comportamento. Dito de outro modo, o comportamento governado por regras pode ser modelado e mantido por controle social.’’. O reforçamento social, portanto, pode manter um comportamento de seguir regras, mesmo quando essa regra não corresponde à contingência nela descrita e daí a insensibilidade à contingência.

Ao pensarmos nas regras descritas acima, se ficarmos sob controle delas, podemos nos manter em relacionamentos abusivos e/ou acreditar que a pessoa irá mudar, afinal, isto está descrito na regra, podemos acreditar que a responsabilidade de um relacionamento não dar certo é totalmente da mulher, afinal, uma boa mulher muda um homem, não é mesmo?

Podemos generalizar o comportamento dos homens, acreditando que todos irão se comportar da mesma forma- sendo que cada um tem sua própria individualidade – e com isso, dificultamos a discriminação de contingências.

Ao seguir a regra ‘’se está difícil é porque vale a pena’’, a pessoa pode aumentar sua tolerância a situações toxicas e com isso, ficar insensível aos seus sentimentos e limites.

Seguir regras não é algo considerado ruim, porém, seguir regras em excesso pode ocasionar em prejuízos pois o indivíduo pode e tornar insensível ao ambiente. Algumas regras são necessárias para a nossa sobrevivência, como por exemplo: ‘’no farol vermelho, não atravesse’’. Mas é importante que sejamos flexíveis quando necessário.

Meyer, S. B. (2007). Regras e autorregeras no laboratório e na clínica. In. Rodrigues, J. & Ribeiro, M. R. Análise do Comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. pp. 211-228.

Paixão, D. (2016). Seguir regras: dois tipos de regras e seus controles comportamentais. Disponível em: https://comportese.com/2016/03/18/seguir-regras-dois-tipos-de-regra-e-seus-controles-comportamentais

Skinner, B. F. (1984). Uma análise operante da resolução de problemas. In: Moreno, R. Contingências de reforço. São Paulo: Abril Cultural.