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Clínica Relações humanas

O que uma torneira pode te ensinar sobre relacionamentos?

Bruna Catarina Pavani

Dentro da prática clínica, podemos utilizar de diversos recursos para auxiliar nossos clientes e um destes recursos, é a metáfora.

O uso de metáforas pode se tornar um procedimento para desenvolver autoconhecimento, ser um Sd, realizar analises funcionais, facilitar o relato de clientes ou ser modelos de como se expressar. Vejamos um exemplo:

Imaginemos que a nossa meta de vida é enchermos uma piscina…, mas não estamos falando de qualquer piscina e sim da nossa piscina de reforçadores da vida.

Se você fosse encher uma piscina de 1000l com apenas uma torneira, quanto tempo você levaria? Nem precisamos entender tanto de matemática para avaliarmos que levaria um bom tempo até encher, né?

Agora imagine que você possui várias torneiras: além de poder encher a piscina mais rápido, você não vai esgotar totalmente a capacidade da torneira, ou seja, se faltar água em uma, terá em outra e estará tudo bem!

Quando pensamos em relacionamentos, principalmente no início de uma relação amorosa, é notável o quanto ficamos mais disponíveis para nosso(a) companheiro, ficamos tão disponíveis que muitas vezes, esquecemos de outras relações/atividades que são tão importantes quanto.

Porém, com o passar do tempo da relação, é natural que o nível de atenção que você recebia antes, você deixa de receber depois de um tempo, o que não é nada confortável para quem ainda possui a necessidade de receber aquela atenção…

Podemos imaginar que, teu parceiro(a), seria a torneira principal que enche sua piscina (reforçador de alta magnitude) mas, quando ele(a), está em outra atividade, é como se essa torneira estivesse fechada para você e por isso é importante termos outras torneiras abertas e quando falo de outras torneiras, não necessariamente falo sobre outros relacionamentos amorosos, mas sim, outras atividades que são tão reforçadoras quanto; e essas atividades podem ser: conversar com amigos, assistir algo, passar um tempo sozinha, praticar alguma atividade, ou algo que você perceba que seja reforçador a você.

De acordo com Skinner (2003):

 ‘’ a única maneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um dado organismo sob dadas condições é fazer um teste direto. Observamos a frequência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento a ela contingente e observamos qualquer mudança na frequência. Se houver mudança, classificamos o evento como reforçador para o organismo. (p.80)’’

         Algumas pessoas possuem dificuldades em saber do que gostam de fazer e por isso, há a necessidade de fazer testes e avaliar o que é reforçador e o que não é, isso chamamos de variabilidade comportamental. Quando variamos nossos comportamentos, temos a possibilidade de criar novas habilidades comportamentais!

Alguns autores (Doughty, Giorno & Miller, 2013; Neuringer, 2015 mencionados por Leite e Micheletto, 2020) em seus estudos experimentais, concluem que a variabilidade comportamental pode ser modificável de acordo com o reforçamento.

Para entendermos o porquê e como as pessoas fazem ou deixam de fazer escolhas vamos nos referir aos esquemas concorrentes (Moreira e Medeiros, 2008).  Para estes autores, nos deparamos com esquemas concorrentes quando temos duas ou mais fontes de reforço disponíveis ao mesmo tempo, sendo que, um esquema de reforço não depende do outro, por exemplo: ir ao cinema com o namorado ou ir fazer a unha na manicure.

Com isso, podemos concluir que a nossa variação comportamental pode ser reforçada tanto positivamente (ex: Comer algo gostoso pois é prazeroso), como negativamente (ex: Deixar de ir a casa da sogra, pois não se sente confortável lá), permitindo que, a pessoa não fique dependente de apenas um único reforçador.

Para nós, analistas do comportamento, é desejável que nosso cliente tenha contato com várias fontes de reforços, já que isso produz um bem estar mais duradouro do que ter uma fonte só. Assim, diante de uma situação de extinção de determinado reforçador, o cliente teria possibilidades de manter contato com reforçadores alternativos.

Referências

Leite, Emerson Ferreira da Costa, & Micheletto, Nilza. (2020). Reforçamento da variabilidade comportamental na resolução de problemas. Arquivos Brasileiros de Psicologia72(1), 204-220. https://dx.doi.org/10.36482/1809-5267.ARBP2020v72i2p.204-220

Moreira, M.B. e Medeiros, C. A (2007). Princípios básicos de analise do comportamento. Porto Alegre: Artmed pp. 133

Skinner, B.F. (2003). Ciência e comportamento humano. Trad Joao Claudio Todorov e Rodolfo Azzi. 10ªed São Paulo: Martins Fontes pp. 80

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